Archive for June 13th, 2009

Entre Atribuições e Isenções

Fora
surpreendida pela noticia. Nem acreditou na hora que a recebeu.

A
semana não tinha sido das mais fáceis. Passara toda a semana – alternando. Tosses
e espirros. Isso sem falar na febre que se solidarizava com as dores. Musculares.
Uma catástrofe. Nem lembrava mais que assim funcionavam as doenças. Era muito difícil
ficar doente. Agora entendia tudo muito bem.  Com clareza.

Isso
sem falar nas gracinhas que ainda tinha que enfrentar. Então me fala, gente da sua
profissão fica doente. Achei que não ficava. Escutava isso repetidas vezes. Quase
uma exaustão.

Por
um segundo pensou em pesquisar. Quem foi o autor desta máxima. Máxima de
bobagem, diga-se de passagem. Mas enfim – sorria. Só com os incisivos expostos.
Se expusesse os caninos poderia ser perigoso. Assim estava o humor. Se é que
podia chamar mesmo de humor. Aquela sensação que sentia. Entre febre e espirros
– esta provocação.

Mas
se comportava. Lembrava que a avó da amiga dela advertia – com frequência.

Muitas
vezes a provocação causa efeitos fortes no provocador, menina, muitas vezes a
provocação causa efeitos fortes no provocador.

Riu.
Era mesmo um pouco vingativa. A avó da amiga. Mas não se recriminou. Queria que
ela estivesse certa. E ela sempre estava. A avó.

Noites
e noites mal dormidas.

Até
que teve uma idéia. Não sabia se causada pela febre. Ou provocada pelos remédios.
Mas de qualquer forma – uma idéia muito bem vinda.

Decidiu
estabelecer uma rotina noturna. Esta uma idéia que a agradou. Muito. Brincava com
seus mails. Pelo celular. Nem precisava sair da cama. Nem retirar o edredom.

Sim.
Porque além de tudo a temperatura caíra. Despencara. Na noite o frio lembrava
nome de filme nacional. Avassalador era pouco.

Escrevia
para ela. a amiga querida d’além mar. E até ria. Com a diferença de fuso era
prático. O que era madrugada para uma – era dia alto para outra. Achou uma boa
solução. Se era para ficar acordada tossindo – que ficasse. Mas poderia
acrescentar um mínimo de diversão nisso. E assim fez.

Quando
ela entrou já se preparou – para expor os incisivos. Em seguida a um leve
acesso de tosse. Mas não foi necessário.

Então
era verdade. Ela estava ali para isso. Não era para provocações. Enfim. Uma – ao
menos.

Não
precisou responder sobre esta dúvida profissional. Ou esta impossível isenção. Enfim.
Estava mesmo sendo convidada. Estavam. Ele também estava incluído. Ela avisou
séria. Com direito a um acompanhante. Lógico. Senão – ela não iria.

Quatro
dias. Um repouso presenteado. Sem nada fazer. Sem despertador. Sem regras rígidas.
Sem nada ser solicitado. Sem comentários sobre a tal tosse ou espirros. Parecia
um presente divino. Se não tinha implicações – não teria demanda.

Maravilha.
Até se controlou. Quase pulou de alegria. Na frente dela. Mas não seria
conveniente. A discrição era um dos seus atributos. Agarrou-se ao tal atributo.
E se controlou. Agradeceu delicadamente. Com um riso discreto de satisfação.

Ela
saiu. Desejou boa estada.

Fechou
a porta da sala. E deu o tal pulinho. Um não. Deu vários pulinhos.


foi logo telefonando para ele. Informando do convite. Riu solto. Fez gracinhas.
Com direito a acompanhante. Avisou a ele a nova função. Acompanhante. Ele riu
também. E foi logo tratando de reorganizar a rotina. E os horários. Na
profissão dele – qualquer última hora – tem que ser agendada com muita
antecedência. Mas se reorganizou.

Quando
a próxima pessoa entrou – falou da tal chance de isenção. E já ia começando a gracejar.
Sobre a doença e a profissão. Ela interrompeu e já foi logo rindo. Mas não esclareceu.
Apenas e largamente – riu.

Com
tosse ou sem tosse – não escutaria isso por quatro dias.